Sobre sentir conforto na melancolia.
Há quatro dias.
Abri o TikTok na esperança de distrair minha cabeça ansiosa com dopamina barata — ou algo do tipo, como chamam algumas pessoas por aí.
Só queria fugir um pouco da realidade.
O primeiro vídeo que vi dizia:
“As poucas pessoas que tive em minha vida foram embora por conta da falta de motivação para mantê-las por perto.”
Arrastei para o lado. A imagem seguinte dizia:
“Sentir conforto na melancolia talvez me mate um dia, mas tudo bem, a tristeza me deixa tão bem.”
É estranho. É muito estranho me deparar com esses tipos de vídeos em um momento tão inoportuno. Fiquei pensando naquilo por alguns minutos, pensando em como um simples vídeo havia descrito grande parte do que eu sentia: melancolia.
E o pior: eu soube a palavra certa para descrever essa vontade estranha de querer senti-la. Gostar de ser melancólica, mas me achar ainda mais esquisita por sentir que estar nesse estado é, de alguma forma, me sentir real. Conforto.
Pois então… é sobre isso que eu escreverei hoje.
Sinceramente, esse é um daqueles textos difíceis, já que eu não sei exatamente em que momento a melancolia me encontra. Escrever textos como os que faço é, por si só, um ato melancólico. Escrever o que se sente, transformar observações diárias em palavras poéticas — isso não é tão comum, e muito menos tranquilo de se fazer.
Também não sei ao certo em que instante ela se faz presente. Acredito que sejam aqueles momentos em que algo me chateia, mas, por vergonha de admitir que algo tão escancarado me afetou, que algo tão cru me deixou apática pelo resto do dia, eu torno tudo muito mais complexo. As noites já não são tão comuns e óbvias. Nem as pessoas. Nem a rotina. Nem eu.
Ser melancólica é um sentimento perigoso. É perigoso gostar de estar em uma tristeza profundamente confortável. É perigoso pensar nas situações de forma mais profunda e lúdica — você se sente à vontade ao refletir sobre as gotas solitárias da chuva. Se sente confortável ao ouvir uma cigarra cantar no breu da noite. Se sente confortável em pensar. Em estar sozinha.
Por um tempo, eu quis negar o fato de gostar de ser melancólica. Ora, ninguém gosta de estar nesse estado estranho entre a tristeza e a reflexão o tempo todo. Mas a melancolia é viciante — ela te abraça e permite que você floresça todos os seus pensamentos mais abstratos de forma livre. Ela te deixa simplesmente… confortável.
Confortável. Essa é definitivamente a palavra.
Não me lembro mais de um dia em que eu não tenha pensado demais.
Por um tempo, evitei os momentos de melancolia, porque não sei sair deles. E, a cada vez, isso me intrigava mais. Mas Nietzsche afirmou, de forma súbita: “Quando se olha por muito tempo para um abismo, o abismo olha de volta para você.”
Ele estava certo. Encarar a melancolia por tempo demais, tentando me achar nela e buscar um bom motivo para negá-la, acabou me tornando parte dela. Eu me via refletida nos olhos da melancolia — e já não posso sair do abismo sem me perder por ele.
Ela me olhou. E me mostrou que também me encara de volta.
É ainda mais perigoso simplesmente aceitá-la. A melancolia faz com que até as mínimas coisas ganhem um significado. As noites se tornam mais pesadas.
Na melancolia, você sente tudo de forma amplificada — e permite que o sentimento amargue por toda a mente.
É perigoso porque você a encontra justamente quando alguém especial está indo embora.
Mas tudo bem. É só mais um motivo pra pensar um pouco mais.
Não há por que se esforçar tanto, nem gritar mais alto para as pessoas fora do seu abismo — não há garantias de que o seu grito vá alcançá-las.
Elas precisam querer escutar.
Elas também precisam querer.
Querer mais que eu, inclusive.
Então… por que gritar se eu posso apenas ser melancólica?
A tristeza irá me confortar.
Realmente, talvez aquela frase estivesse certa.
Talvez me sentir confortável na melancolia me mate um dia.
Não há urgência — só vai se dissolvendo aos poucos,
com a mesma sensação de sentir tudo e nada ao mesmo tempo.
As noites ficam cada vez mais longas, mais densas, mais escuras,
fazendo com que eu me afunde um pouquinho mais em cada pensamento.
A melancolia vai tomando espaço.
Me faz olhar para o mundo como se tudo fosse um verso esperando ser escrito,
mas talvez, um dia,
ela me convença a parar de escrever.
Porque talvez nada mais faça sentido.
Porque talvez… eu só precise dela.
Menos eu, e mais melancolia,
até que eu me dissolva por completo.
Conforto.
~ Vivaz e Amor Fati.