Nesse texto vou tocar em um assunto muito complicado pra mim, não porque foi ruim, mas porque me traz nostalgia, saudade e reflexões: infância.
Ainda lembro das brincadeiras bobas que criava em minha mente, tipo aquelas em fingir que a lua estava me seguindo enquanto viajava de carro, ou quando acompanhava os fios dos postes ligados uns aos outros e fingia que estavam de mãos dadas. Acho que nem essa mentalidade boba sobrou devido à maldade do tempo.
Costumava achar ainda que, aquelas contas que envolviam letras e símbolos matemáticos só eram possíveis serem resolvidas por gênios, que eram extremamente difíceis. Hoje, posso resolver esse tipo de conta, ainda posso me dar o luxo de dizer que algumas são fáceis.
Nietzsche certa vez afirmou que pessoas ignorantes são mais felizes, e logo mais você entenderá o porquê dela estar aqui.
Crescer assusta.
Outro dia, chamei uma garotinha para conversar. Falamos sobre as coisas de que ela gostava. Olhei em seus olhos—estavam super dilatados. Aos 9 anos, já tinha tendências ansiosas: pensava demais e colocava o dedo na boca, buscando roer qualquer saliência que encontrasse. Que crueldade, logo aos 9 anos? Tão cedo e já havia descoberto o poder dos pensamentos inconvenientes.
Não adiantava explicar nada para ela, não porque era criança e naturalmente não prestaria atenção, mas porque se perdia. Perdia-se dentro da própria cabeça, fixava o olhar em um ponto e se desligava. Pensava tão alto que até me incomodava.
A garota só voltava à realidade quando falava sobre seus desenhos, sobre suas observações. Era apegada aos desenhos, gostava de ciências, tinha poucas amigas. Já formava pensamentos maduros para sua idade.
Seus olhos me levaram de volta à minha infância. Eu era extremamente parecida com ela. Talvez estivesse, de certa forma, conversando comigo mesma. Mas não... Aos 9 anos, eu não deixava minhas observações saírem do controle. Não era eu. Ainda bem.
Era apenas mais uma criança se esvaindo precocemente da própria infância. Que cruel o mundo pode ser.
Por que tenho a sensação de que, na infância, tudo era mais simples?
Quando pedir uma pizza era um evento. Hoje, prefiro pedir japonês porque, semana passada, já comi pizza.
É isso. Quando se cresce, mais se sabe. Quanto mais se conhece, mais sem graça a vida fica. Paramos de acreditar no Papai Noel, na Fada do Dente. Passamos a cumprir nossas obrigações não porque, no final do ano, o Papai Noel deixará de trazer nossos presentes, mas porque simplesmente é necessário. “Porque sim.” Sem graça.
Quando foi que paramos de ter medo do escuro? De bruxas, zumbis, fantasmas? E passamos a ter medo de ficarmos sozinhos, de perder nossos pais? Talvez ainda tenhamos medo dos fantasmas—mas agora, os da nossa própria mente.
E quando nossos avós morrem e não podemos mais abraçá-los ou repetir as coisas comuns que fazíamos com eles? Todo mês de dezembro, eu fazia questão de ir para a casa dos meus avós enfeitar a árvore de Natal. Enfeites cafonas, antiquados, mas especiais. Zerava o DVD de Tom & Jerry" e achava que estava ganhando todos os jogos de cartas, mesmo sabendo que meu avô percebia quando eu trapaceava. Não falava meu nome por completo, então me chamava de “Anna Liza”.
Avô. Ficou na infância. O tempo não deixou você comigo.
E os costumes dos nossos pais, que também ficaram na infância? Meu pai sempre me cobria antes de dormir, me aconchegava na coberta e dizia que estava fazendo uma “tortinha”. Me dava um beijo na testa e sussurrava: “Dorme com os anjinhos.” Ou quando deixávamos para assistir Os Simpsons à noite, mas eu acabava dormindo e, ao acordar, corria para minha cama antes que The Walking Dead começasse—porque morria de medo.
Quando foi?
Quando foi que comecei a me identificar com as músicas tristes, aquelas que antes achava chatas? Ou só as ouvia porque o clipe era incrível? Quando passei a amar filosofia porque ela me faz entender o mundo de uma forma mais clara? Quando finalmente aprendi frações—depois de tanto ver meus pais sofrendo para me ensinar?
Se você chamasse sua criança interior para conversar sobre a vida, como seria?
Se ela te perguntasse como vai a vida, o que você responderia? Diria que está difícil? Que quer ser criança novamente? E se a assustasse?
Se te perguntasse sobre seus avós, seus pais, o que diria?
E sobre seus sonhos de agora, teria coragem de dizer que muitos foram frustrados porque não fazem mais sentido?
Contaria a ela sobre todas as coisas que ela vai passar? Ou apenas deixaria que descobrisse?
Talvez seja por isso que não sonho em ter filhos. Tenho um carinho enorme pelas crianças, mas sinto pena. Olho para elas com pena. Escrevo isso chorando, porque a Anna criança costumava desenhar, vivia admirando as estrelas, sonhava com um quartinho rosa com coelhos. Queria irmãos para brincar, pois se sentia solitária. Fazia do seu quarto um mundo infinito de possibilidades.
O olhar de uma criança, a simplicidade da sua vida, poucas preocupações, poucas decepções. Por favor, não conte a elas o quão cruel pode ser crescer.
Acho que, se fosse criança, eu não escreveria. Definitivamente, não escreveria sobre nenhuma dessas coisas. Não escreveria sobre a vida, deprimida como estou agora. E escrevo isso com lágrimas nos olhos, pois minha criança não gostaria de ver isso.
Crescer.
Este, eu dedico a todas as crianças vivas em cada um de nós. Dedico à saudade.
E este é um lamento à impiedade do tempo.
Crescer é uma merda.
~ Vivaz e Amor Fati.
to chorando
Crescer realmente dói, é necessário, mas não deixa de ser um processo doloroso. Gostei do seu texto 💕